terça-feira, 23 de outubro de 2012

O planeta em rota de colisão

Claudia Batista Freire


“Uma compreensão dos temas ambientais globais exige a mediação entre o imediato e o mediato, entre o próximo e o distante, entre o mais sentido e o menos sentido, entre o privado e o público, entre o pessoal e o político, entre o individual e o organizativo, entre a exclusão e a presença na sociedade civil, entre um horizonte de compreensão e outros, entre um eu, um tu e um nós, entre o micro e o macro”.
Gutiérrez e Pietro



Atualmente tem-se debatido bastante a questão da crise ambiental em que o mundo se encontra, diversos grupos da sociedade em todo o mundo têm-se mobilizado para reconhecer, entender e reverter este conflito. A comunidade científica chegou a um consenso de que a humanidade alterou e continua alterando substancialmente o clima do planeta. Muitos desastres ecológicos têm ocorrido em todas as partes do mundo, afetando drasticamente a vida do ser humano.

Sabe-se que a civilização depende do meio ambiente natural, não apenas para energia e materiais, mas também para a realização dos processos vitais para a manutenção da vida, como os ciclos do ar e da água (ODUM, 1988). O homem tem praticado muitas alterações no meio ambiente, estes vem interferindo nos processos vitais para a sobrevivência do planeta e causado grandes problemas ambientais. Entende-se aqui por meio ambiente tudo o que cerca o ser vivo, que o influência e que é indispensável à sua sustentação; estas condições incluem solo, clima, recursos hídricos, ar, nutrientes e os outros organismos. Este não é constituído apenas do meio biótico e abiótico, mas também do meio sócio-cultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem.

Os problemas ocorrentes no meio ambiente estão todos conectados, não podem ser estudados separadamente, cada coisa na terra está atrelada com as outras coisas. Para Capra (1996) todos os membros de uma comunidade ecológica estão interligados numa vasta e emaranhada rede de relações, a Teia da vida. Assim, todos os problemas que estão ocorrendo na Teia da vida são sistêmicos, isto é, estão interligados e são interdependentes. A concepção de que tudo no planeta depende um do outro está cada vez mais na mente humana, isto porque foi preciso parar de estudar as partes e estudar o todo pra entender a crise ambiental que se instalou no mundo.

A degradação ambiental não se iniciou em períodos recentes, é decorrência de ações que vem ocorrendo através da história. Alguns estudiosos acreditam que isto vem ocorrendo há muito tempo e é fruto de pensamentos anteriores, mas não se pode deixar de questionar o momento histórico que estes pensamentos foram desenvolvidos. Na Idade Média a natureza era respeitada, porque era vista como uma divindade, só era extraída dela o necessário para a sobrevivência das comunidades. Com a Revolução Científica (Séc. XVI e XVII) o pensamento da sociedade foi modificado, grandes pensadores da época acreditavam que a natureza existia para servir o homem.

No século XVII, Descartes e Newton surgem com idéias que separavam o homem da natureza. O pensamento cartesiano, como fica conhecido estas idéias, são bastante defendidas por Descartes, que criou o método do pensamento analítico (compreender o comportamento do todo a partir das suas partes), e comprovadas por Newton, que consegue explicar todos os fenômenos ambientais matematicamente, chegando à conclusão de que a natureza é igual a uma máquina.

Vários pensamentos, concepções e formas de estudar a relação do homem com a natureza já foram definidos. Saindo do pensamento mecanicista, reducionista ou atomística que teve início com Descartes para o pensamento sistêmico atual, a ênfase no todo, também conhecida como holística ou ecológica. Que tem permitido a humanidade entender várias questões, como os problemas ambientais. Para os ecofilósofos o pensamento que se baseia na superposição de que o homem está no topo da natureza, ou seja, que somos os senhores da natureza, coloca em risco toda a vida do planeta, para estes a nossa civilização tomou o caminho errado e se encontra em rota de colisão com que este planeta é capaz de agüentar (GAARDER, 1995).
O reconhecimento da crise ambiental já é um grande passo. E é preciso compreender que as leis básicas da natureza não foram revogadas, apenas suas feições e relações quantitativas modificaram, à medida que a população humana mundial e seu prodigioso consumo de energia aumentaram nossa capacidade de alterar o ambiente (ODUM, 1988).
Os primórdios do movimento para avaliar a crise ambiental confundem-se com as primeiras discussões engendradas pelo Clube de Roma na década de 60 (ODUM, 1988). Este era constituído de 30 indivíduos, entre eles cientistas, pedagogos, economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos nacionais e internacionais, representantes de dez países. Que se reuniram no intuito de debater a crise atual e o futuro da humanidade.

Desde então vários grupos de discussões sobre a problemática ambiental tem ocorrido em todo o mundo. Atualmente o principal assunto debatido tem sido o aumento da temperatura do planeta. A mudança climática envolve interações múltiplas entre distintos processos como o clima, ambiente, economia, sociedade, instituições e desenvolvimento ecológico (CUNHA, 2004).

O aumento da temperatura tem sido conseqüência principalmente da destruição da camada de ozônio, que possui importante papel na regulação do clima da Terra. Dois acordos internacionais foram adotados na década de 80 no intuito de proteger esta camada, a Convenção de Viena para a proteção da camada de ozônio e o Protocolo de Montreal sobre substâncias que esgotam a camada de ozônio. O primeiro tem como objetivo principal a proteção da saúde humana e do meio ambiente contra os efeitos nocivos das alterações da camada de ozônio; já o Protocolo tem como principal objetivo estabelecer etapas para a redução e proibição da manufatura e uso de substâncias degradadoras da camada de ozônio.

Já na década de 90 outro protocolo, o Protocolo de Kyoto, foi assinado por causa de outro grande problema que tem afetado bastante o clima do planeta, a aceleração do efeito estufa. Este tem como objetivo a redução de gases que aceleram este efeito. Este e outros Protocolos e Convenções estão em vigor e discutem a questão do aquecimento global.

Lovelock (1991) ao defender sua Teoria Gaia, afirma que a Terra é um ser vivo, a biosfera do planeta é capaz de gerar, manter e regular as suas próprias condições de meio ambiente, ela cria as condições para a sua própria sobrevivência. Este acredita que qualquer espécie que afete negativamente o ambiente, tornando-o menos favorável para sua descendência, acabará sendo expulsa. É o que acontecerá com a espécie humana se o homem não preservar o nosso planeta. Nós, seres humanos temos que entender que: "o homem não teceu a teia da vida, ele é apenas um fio dela; o que fizer para a teia estará fazendo para si mesmo" (SEATLE apud BOFF, 2006).

Como foi escrito na Carta da Terra nós temos o poder de escolha, ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Temos a obrigação de entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. (CARTA DA TERRA - DESAFIOS PARA O FUTURO). É preciso religar-se com a Teia da vida, isto é, construir, nutrir e educar comunidades sustentáveis, nas quais possa satisfazer nossas aspirações e nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras (CAPRA, 1996).

Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais são sistêmicos e suas soluções só surgiram a partir da união e comprometimento de todos os humanos do planeta.

REFERÊNCIAS

BOFF, L. Sociedade de Sustentação da Vida. (27 de janeiro de 2006). Disponível em: . Acesso em: 27 de mar de 2007.

CAPRA, F. A teia da vida: Uma compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Editora Cultrix, 1996.

CUNHA, et. al. Construindo a necessária capacidade de lidar com as mudanças climáticas globais e respectivos impactos em agricultura e na alimentação. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2004.6 p. html. (Embrapa Trigo. Documento Online; 35). Disponível em: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do35.htm

GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: companhia das Letras, 1995.

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Carta da terra. Disponível em: . Acesso em: 26 de mar de 2007.

ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabra Koogan S.A., 1988.

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