quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Biologia da Conservação: ciência da crise


Bem, galera ai esta parte de um texto descrito por este autor  Rodrigues, E. no qual escreveu um livro denominado de Biologia da Conservação: Ciência da crise que fala da conservação, como fazer e porquê. Gostei muito deste livro, comprei e esta disponivel para aquele que se interessar é muito bom e recomendo para quem quer trabalhar ou trabalhar na área de preservação ambiental copiei parte de um  texto e coloquei para vcs degustarem.
um forte abraço!

 POSTADO POR: Tailma dos Santos

Biologia da Conservação: Ciência da crise

Efraim Rodrigues, Ph.D.


Resumo
A ciência da Biologia da Conservação foi desenvolvida como uma resposta à crise de extinção de
espécies que o mundo enfrenta atualmente. A Biologia da Conservação é uma síntese de diferentes
disciplinas, como Ecologia, Biologia de Populações, Antropologia, Taxonomia, e outras, todas enfocadas
na prevenção da extinção de espécies. O Desenvolvimento de uma Biologia da Conservação Brasileira
depende de encontrar um compromisso entre os problemas sociais e a grande biodiversidade no país.
Três projetos que conseguiram alcançar bons resultados no Brasil são descritos. O Projeto TAMAR, o
Mamirauá, e um livro texto sobre biologia da conservação.


A extinção de espécies e suas conseqüências 

o vasto patrimônio que é o conjunto de todas asespécies e comunidades naturais da Terra está sob risco iminente. Extintas as espécies, serão afetadostambém todos os processos naturais que que guardam  relações com estas espécies, como ciclagem denutrientes, erosão, polinização e dispersão de sementes. O evento de mega-extinção por que passa nossoplaneta coloca todo estes processos em risco, e junto com eles, muitas atividades humanas que dependemdeles. A extinção de espécies implica em última última instância, em aceleração do aquecimento global,em menor eficiência da agricultura e na redução do  potencial turístico de muitas áreas. Assim, o que é negativo para a diversidade biológica será mais cedo oumais tarde negativo para a espécie humana.


O que é Biologia da Conservação

A biologia da conservação é uma ciência multidisciplinar que foi desenvolvida como resposta  à crise com a qual a diversidade biológica se confrontaatualmente. Ela surgiu uma vez que nenhuma das disciplinas tradicionais aplicadas sãoabrangentes o suficiente, para tratar das sérias ameaças à diversidade biológica. A biologia da agricultura,silvicultura, de gerenciamento da vida selvagem e da piscicultura ocupam-se basicamente do desenvolvimentode métodos para gerenciar umas poucas espécies para fins mercadológicos e de recreação. Essas disciplinas geralmente não tratam da proteção de todas as espécies encontradas nas comunidadesou as tratam como um assunto secundário. A biologia da conservação complementa as disciplinas aplicadasfornecendo uma abordagem mais teórica e geral para a proteção da diversidade biológica; ela difere das outras disciplinas porque leva em consideração, em primeiro lugar, a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas e coloca os fatores econômicos em segundo plano. 
  Sob vários aspectos, a biologia da conservação é uma disciplina de crise. As decisões sobre assuntos
relativos à conservação são tomadas todos os dias, muitas vezes com informação limitada e fortemente pressionadas pelo tempo. A biologia de conservação tenta fornecer respostas a questões específicas aplicáveis a situações reais. Tais questões são levantadas no processo de determinar as melhores estratégias
para proteger espécies raras, conceber reservas naturais, iniciar programas de reprodução para manter a variação genética de pequenas populações e harmonizar as preocupações conservacionistas com as necessidades do povo e governo locais. Os biólogos e outros conservacionistas de áreas afins, são pessoas adequadas para fornecer a orientação que os governos, as empresas e o público em geral necessitam quando têm de tomar decisões cruciais. Embora alguns biólogos conservacionistas possam hesitar em fazer recomendações sem ter conhecimento detalhado das especificidades de um caso, a urgência de muitas situações pede decisões com base e em determinados princípios fundamentais de biologia.

A biologia da conservação fundamenta-se em alguns pressupostos básicos (SOULÉ, 1985). Esses pressupostos representam um conjunto de asserções éticas e ideológicas que sugerem abordagens científicas
e aplicações práticas. Embora nem todas essas asserções sejam aceitas inequivocamente, a aceitação
de uma ou duas já é razão suficiente para justificar os esforços em favor da conservação.
 
1. A diversidade dos organismos é positiva. Em geral, as pessoas gostam da diversidade biológica. As centenas de milhares de pessoas que visitam os zoológicos, parques naturais, jardins botânicos e aquários a cada ano, são prova do interesse do público em geral na diversidade biológica. A variaçã genética das espécies também tem apelo popular, como é demonstrado nas exposições de cães e gatos, exposições agropecuárias e de flores. Tem-se especulado, inclusive, que os seres humanos têm uma predisposição genética para gostar da diversidade biológica, chamada biofilia (WILSON, 1984; KELLERT e WILSON, 1993). A biofilia teria sido vantajosa para o estilo de vida “caça e coleta” que o ser humano viveu durante
centenas de milhares de anos antes da invenção da agricultura. Uma grande diversidade biológica teria lhe proporcionado uma variedade de alimentos e outros recursos, protegendo-o das catástrofes naturais e da fome.

2. A extinção prematura de populações e espécies  é negativa. A extinção de espécies e populações
como conseqüência de processos naturais é um acontecimento normal. Através dos milênios do tempo geológico, as extinções das espécies têm sido equilibradas pela evolução de novas espécies. Da mesma forma, a perda local de uma população é geralmente compensada pelo estabelecimento de uma nova população através de dispersão. Entretanto, a atividade humana aumentou mil vezes o índice de extinção. No século vinte, virtualmente todas as centenas de extinções conhecidas de espécies de vertebrados, assim como os presumíveis milhares de extinções de espécies de invertebrados, foram causadas pelo ser humano.
 
3. A complexidade ecológica é positiva. Muitas das propriedades mais interessantes da diversidade biológica aparecem apenas em ambientes naturais. Por exemplo, as relações ecológicas e de coevolução existentes entre as flores tropicais, beija-flores e ácaros que vivem nas flores. Os ácaros utilizam os bicos dos beija-flores como um “veículo de transporte” para ir de flor em flor (COLWELL, 1986). Tais relacionamentos nunca teriam sido descobertos se os animais e as plantas estivessem morando isoladamente em zoológicos e jardins botânicos. As estratégias fascinantes de animais do deserto para obter água não teriam sido conhecidas se os animais estivessem vivendo em jaulas com água à vontade.

Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 23, n. 2, p. 261-272, jul./dez. 2002

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