Síntese Comentada
Rio São
Francisco em descaminho: Degradação e revitalização
MARIA DAS GRAÇAS GONÇALVES SOUSA MAGALHÃES
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Objetivo
do estudo
Inicialmente o estudo foi com o objetivo de
selecionar material que suscitasse discussões a respeito do território de Irecê
e assim sinalizar aspectos relacionados às questões ambientais. Na sequência, as intenções seguem em sintetizar e comentar as ideias
centrais do documento Rio São Francisco em descaminho: Degradação e
revitalização. Os comentários partiram da visão que aos autores apontam da
fragilidade da proposta de revitalização do Rio São Francisco, sendo assim, as
críticas postas vem ampliar a discussão.
·
Contexto do trabalho
Salvador / setembro 2007
·
Resultados principais no tocante os aspectos
geográficos ambientais
Como resultados percebe-se ineficiência das
ações de órgãos federais no tocante a
suposta revitalização do Rio São Francisco que não atende ao objetivo que é
revitalizar. Tais confirmações partiram dos argumentos dos autores quando
apontam as causas de cada problemática e que ações seriam possíveis para
acontecer de fato a revitalização.
·
Comentários
Os comentários estão inseridos no texto junto
aos parágrafos em que os autores trazem suas abordagens.
1.
Introdução
Fala-se
muito, da necessidade de revitalizar, preservar e conservar bacias
hidrográficas. Revitalização de bacias hidrográficas passou a ser assunto
recorrente na mídia, sabe-se que nem sempre o que veicula nos meios de
comunição a respeito da revitalização dos mananciais hídricos traduz em práticas
reais, a exemplo do que os autores desse
trabalho argumentam, ou seja, a discussão sobre a revitalização da Bacia do São
Francisco, verdadeiramente só pode acontecer se houver um enfrentamento dos
seus principais problemas, que são as causas de um acelerado processo de
degradação.
Por outro lado, os
principais usos econômicos do São Francisco — produção de energia e agricultura irrigada,
bem como os outros usos de seus recursos naturais remetem à permanência de um
modelo de exploração econômica que, se não for substancialmente modificado, de
nada adiantarão os esforços de revitalização. Os próprios autores revelam uma
revitalização tímida por parte do governo. Os esforços têm-se sido bem maior no
uso indiscriminado das águas do Rio.
2. Indícios
e causas da degradação
Os
dados mostrados a seguir traz um panorama de como ocorre a degradação do Rio
São Francisco. Calcula-se que 18 milhões
de toneladas de arraste sólido carreados anualmente para a calha do rio até o
reservatório de Sobradinho. A erosão, fruto do desmatamento e do conseqüente
desbarrancamento, além de alargar a calha do rio, gera uma carga elevada de
sedimentos, constituindo bancos de areia e “ilhas” (as chamadas “coroas” ou
“croas”, no linguajar ribeirinho), constantemente se movendo e mudando de
lugar.
Até pouco tempo o Rio era navegado sem maiores
restrições entre Pirapora e Petrolina/Juazeiro (1.312 km), no médio curso, e
entre Piranhas e a foz (208 ), no baixo curso. Hoje, só apresenta navegação
comercial no trecho empreendido entre os portos de Muquém do São Francisco
(Ibotirama), na Bahia, e Petrolina/Juazeiro, na divisa entre Bahia e Pernambuco.
Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por deficiência de calado,
sobretudo na entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento
multiplica os bancos de areia (ANA/OEA/GEF/PNUMA et al, 2004b : 32).
Outro sinal alarmante da situação deplorável
do Rio é a diminuição da sua vazão. Em 2001, o reservatório de Sobradinho
chegou a 5% de sua capacidade (ANA/OEA/GEF/PNUMA et al, 2004b: 20-21); em
outubro de 2007, atingiu um pouco mais de 20%1. Em combinação com a elevada
carga de poluição doméstica e industrial que cai no Rio, o ecossistema aquático
nos períodos mais secos regularmente chega ao colapso. O resultado é a
mortandade de peixes.
Os
exemplos de assoreamento do Rio São Francisco é um bom indicador de que a
revitalização do mesmo deve ser uma ação urgente por parte do governo, sendo
assim, a insistência em manter ações
voltadas para a exploração econômica talvez seja uma altitude irresponsável, em
que mais uma vez atende aos interesses do capital.
2.1.
Avanço
descontrolado da agricultura intensiva de irrigação
Como
uma das principais causas de degradação do Rio São Francisco, o modelo de
produção agro-industrial vigente na Bacia vem causando uma cadeia de problemas
ambientais. Desde os anos 70 a Bacia do Rio São Francisco vive uma acelerada e
desenfreada expansão da agricultura intensiva, se expandindo a produção de
grãos, como soja e milho, mas também algodão e pecuária. Deu-se um desmatamento
muito rápido de grande parte da vegetação natural do cerrado. Este avanço se se constata na
produção de soja no Oeste do Estado o que triplicou de 282.600 há em 1990/1991
para 872.600 há em 2005/2006.
Ao
analisar os dados, percebe-se o modelo de desenvolvimento adotado nesta parte
do nordeste que é favorecido pelo Vale do Rio São Francisco. Os efeitos do
agronegócio tem sido catastróficos em se tratando o uso inadequado da água do
Rio, pois não justifica tamanha destruição, uma vez que a situação econômica
não favorece os ribeirinhos, a população carente que vive próximo ao Rio. Toda
a riqueza produzida, no Oeste Baiano é voltada para atender o mercado externo,
mantendo as desigualdades sociais de forma ainda mais concentrada. Além disso,
o desmatamento vem provocando uma série de problemas os quais o autor aponta: desmatamento do cerrado,
2.1.1.
Desmatamento do Cerrado
O
Cerrado é conhecido como a “floresta invertida” por ter mais matéria orgânica
vegetal no subsolo do que na parte superior do solo. O extenso sistema
radicular das árvores capta água armazenada no fundo no subsolo nos períodos
secos e é capaz de reter no mínimo 70% das águas das chuvas. Estas águas
alimentam os lençóis subterrâneos que, por sua vez, alimentam as nascentes, as
veredas, as lagoas, os córregos, os riachos e os rios, depois do desmatamento,
todo o ciclo hidrológico é alterado.
Essa
problemática somada aos pivôs implantados na região que capta a água do Rio
pode não só alterar o curso do Rio mas
transformar seus afluentes de rios perenes a rios intermitentes. A velocidade em
que ocorre o desmatamento segundo os autores pode no futuro desaparecer o bioma
dessa região.
2.1.2.
Supressão da mata ciliar
Ainda
mais drástica é a situação das matas ciliares do Rio São Francisco, elemento
fundamental para o controle da erosão nas margens e para minimizar os efeitos
das enchentes. Essas “matas de galeria” são essenciais para o equilíbrio
ambiental, além de manter a quantidade e a qualidade das águas, na medida em
que funcionam como filtro natural dos possíveis resíduos de produtos químicos
como agrotóxicos e fertilizantes, além de representar habitat muito importante
para a fauna. No caso do Rio São Francisco, estima-se que 96% das matas
ciliares das suas margens já foram destruídos.
A
pergunta é, como manter um curso normal de um Rio, sendo este destruído nas
bases essenciais para a sua sobrevivência? E ainda, que políticas de fato
poderão ser eficazes no sentido da revitalização do Rio São Francisco, se os
processos de destruição são bem mais intensos do que as ações para salvar o
Rio?
2.1.3.
Superexploração dos mananciais pela agricultura irrigada
De
toda a vazão retirada do Rio São Francisco, 68% da água são usados para
irrigação
(ANA/OEA/GEF/PNUMA et al, 2004b: 26). A partir de meados da dé cada de 1970
observa-se um crescimento quase exponencial da demanda de água devido à
implementação de grandes projetos de irrigação. Os grandes perímetros de
irrigação foram concebidos e financiados como projetos públicos, contemplando
também pequenos e médios produtores (colonos). Porém, ao longo dos anos, houve
um forte processo de concentração das terras
irrigadas na mão de empresas privadas, hoje voltadas para a produção de
frutas para exportação, basicamente uva e manga, que dão um significativo
retorno econômico.
A
reflexão que se faz diante do exposto é saber que os projetos de irrigação sob
a responsabilidade da CODEVASF têm favorecido cada vez mais empresas privadas,
por ter um poder aquisitivo superiores aos colonos, e promover investimentos no
perímetro irrigado. Isso reforça cada vez mais as injustiças sociais, pois um
recurso natural como a água, somado a uma política pública que deveria
favorecer primeiramente aos mais necessitados, em suma, acaba por beneficiar aqueles
que já detêm um poder aquisitivo alto.
Além disso, os projetos de irrigação contribuem
para a contaminação do rio, de seus afluentes e dos lençóis subterrâneos. Os
grandes perímetros irrigados e monocultivos demandam uma quantidade enorme de
agrotóxicos e adubos químicos. O excesso de água aplicada retorna para o rio,
afluentes e depósitos subterrâneos, arrastando consigo sais solúveis,
fertilizantes, resíduos de agrotóxicos e outros tóxicos.
Esta
situação coloca em risco toda a população, pois os lençóis freáticos são
contaminados pela presença dos agrotóxicos
consequências dos perímetros irrigados, o que contamina os alimentos no processo de produção
bem como a contaminação da água utilizada para o consumo humano de modo geral.
2.2.
Produção
de carvão vegetal
Além
do avanço da agricultura intensiva, uma das maiores causas do desmatamento na
Bacia do Rio São Francisco é a carvoaria. O Brasil é o maior produtor de carvão
vegetal do mundo: em 2004 foram produzidos 7 milhões de toneladas, dos quais
cerca de 60% provieram de florestas plantadas e o restante de vegetação nativa
da Caatinga e do Cerrado.
No
entanto o autor mostra que a problemática maior é a produção do carvão ilegal,
o que foge do processo de fiscalização e agravando as questões ambientais.
Outro ponto sinalizado é o plantio de eucalipto para a produção do carvão, pois
absorve muita água subterrânea, contribuindo para a degradação do solo devido a
profundidade das raízes e o desequilíbrio hídrico.
2.3.
Concentração de terra
Outro
fator essencial comumente ignorado nas análises das causas de degradação é o
problema fundiário da Bacia do Rio São Francisco, a grande e irrestrita concentração
que possibilita o uso abusivo das terras e dos recursos naturais, ao tempo em
que leva a uma superexploração das áreas dos pequenos agricultores, sem
alternativas além do desmatamento total das suas propriedades minúsculas.
Essa
prática é muito comum, sobretudo no Oeste baiano, a concentração de terras e o
desmatamento desenfreado para a produção de soja, algodão, café, entre outros,
tem ocasionado um exagerado no uso dos recursos naturais em pro do agronegócio.
Certamente que este também se torna uma das problemáticas para a degradação da
Bacia do São Francisco.
2.4.
Barragens
e hidrelétricas
Uma
das alterações mais visíveis e abruptas no ecossistema do São Francisco
diz
respeito às hidrelétricas, primeiro grande e exclusivista uso moderno das águas
do Rio. São sete hidroelétricas que modificaram profundamente e para sempre a
vida de dezenas de milhares de famílias atingidas e o ecossistema do Rio.
Apenas com a construção da barragem de Sobradinho, que por muito tempo foi o
maior lago artificial do mundo em espelho d’água (414 mil km2), ocorreu uma
remoção forçada de 72 mil pessoas, há 30 anos atrás (cf. Siqueira, 1994). Mais
da metade destas pessoas era constituída de camponeses pobres, que dependiam do
Rio para viver. Calcula-se em 160 mil pessoas os atingidos por todas essas
barragens. Além do imenso impacto social, as barragens tiveram sérios efeitos
ambientais negativos, alterando os ciclos de cheia e vazante do Rio e
comprometendo a reprodução das espécies ligada a esses ciclos.
A
situação de abandono dos cidadãos que são obrigados a deixar seu “lugar” seu
canto, dotado de singularidades culturais, marcas de cada indivíduo e que são
obrigados a deixar pra trás dando lugar a uma barragem. É uma violência
natural, considerando que o homem é parte do espaço natural. Por outro lado,
todos o animais que habitam naquele espaço e em suma o ecossistema que é
alterado. Sendo assim, percebe-se o quanto houve mudanças abruptas ao construir
as barragens naquela localidade. Todo ciclo do Rio foi alterado, sendo mais uma
causa para os desastres ambientais do Rio São Francisco.
2.5.
Mineração
e siderurgia
A
Bacia do Rio São Francisco detém cerca de 20% do universo da atividade mineral
ficial do país. De um total de 11.600 títulos minerários ativos, 2.320 estão
inseridos na Bacia e 1.600 são de projetos que efetivamente exploram bens
minerais e utilizam água nas suas operações. Isto embasa a constatação de que o
setor mineral é um dos grandes usuários de água na Bacia do São Francisco. Por
esta representatividade, faz-se necessário um maior controle de seu consumo de
água por meio do aumento das fiscalizações nas mineradoras.
No
entanto a fiscalização dessas mineradoras nem sempre acontece, elas atuam
livremente utilizando e desperdiçando
água que literalmente contribuem para a diminuição da vazão.
2.6.
Falta de saneamento básico na Bacia
A
avaliação da condição atual dos corpos d’água na Bacia do Rio São Francisco mostrou que as principais fontes de
poluição são os esgotos domésticos, as atividades a agropecuárias e a
mineração. Os indicadores de saneamento revelam um quadro preocupante na Bacia,
com 49,90% de rede de esgoto e apenas 3,20% de esgotos tratados. Observa-se o
lançamento de efluentes industriais e domésticos e a disposição inadequada de
resíduos sólidos, comprometendo a qualidade de Rios como Paraopeba, das Velhas,
Pará, Verde Grande, Paracatu, Jequitaí e Urucuia.
A
situação mais crítica é a da Bacia do Rio das Velhas que, além da grande contaminação
das águas pelo lançamento de esgotos domésticos da Região Metropolitana de Belo
Horizonte, apresenta elevada carga inorgânica poluidora proveniente da extração
e beneficiamento de minérios.
Essa
é uma situação que se repete a todos mananciais hídricos e sobretudo no Rio São
Francisco. Acontece que os resultados em virtude da poluição dos Rios através
dos esgotos, é uma realidade que se repete e se amplia cada vez mais. Mas não
se visualiza nenhuma ação governamental
que de fato seja eficaz na diminuição da
poluição do Rio São Francisco. Dessa forma, este também é um dos problemas que
agrava muito a situação do Velho Chico.
2.7.
Desigualdade
social e pobreza: injustiça ambiental
Esta
somatória de degradações acaba, em última instância, impactando mais a parte
mais fraca, qual seja, a população pobre da Bacia. Configura-se, assim,uma
situação e extrema injustiça ambiental,
entendida como a condição de
existência coletiva própria a sociedades desiguais onde imperam mecanismos
sócio-políticos que destinam a maior carga dos danos ambientais do
desenvolvimento a grupos sociais de trabalhadores, população de baixa renda,
segmentos discriminados pelo racismo ambiental, parcelas marginalizadas e mais
vulneráveis de cidadãos. Os dados sócio-econômicos mostram que a Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco possui acentuados contrastes, abrangendo
áreas de acentuada pobreza e um modelo agrícola
de desenvolvimento, ineficaz a
despeito das iniciativas de revitalização, esse quadro não deve melhorar. Tais
projetos não melhoram a vida dos ribeirinhos.
A
remuneração continua baixa e cresce a prática do trabalho degradante (em 1998,
as pessoas diretamente empregadas no perímetro de irrigação tinham um salário
médio equivalente a dois salários mínimos). Também não se pergunta pela
qualidade dos empregos gerados pela irrigação. Nos perímetros de Juazeiro e
Petrolina formaram-se bairros inteiros miseráveis e insalubres, onde as
populações empregadas na irrigação aglomeram-se para sobreviver.
É
contraditório perceber que as pessoas que apresenta uma vulnerabilidade social
por tornarem mão-de-obra sazonal e barata, ora morando nos bairros periféricos, ora morando do lado de fora das
cercas e muros que rodeiam os perímetros irrigados, são como estranhos, alguns em terras que já
foram suas. Sem contar os altos índices
de criminalidade, prostituição e violência que assolam nessas periferias.
É notório que a quantidade de pessoas que vivem em situação
subumana nesta região é também resultado do processo migratório, que por sua
vez, não têm uma capacitação adequada para o mercado de trabalho oferecido.
Os
próprios casebres abandonados que se encontram na zona rural de Juazeiro,
constata que pequenos agricultores foram obrigados a desapropriar suas terras,
vencidos pelo poder do capital. Em suma, os principais beneficiados na compra
de grandes lotes daquela região favorecida pela Política Pública ali
implantada, resume em grandes
fazendeiros do sul do país somado a presença de multinacionais.
3.O Programa de Revitalização do Governo
Federal
Apesar
das denúncias reiterativas sobre o agravamento dos problemas do Rio São
Francisco e dos insistentes apelos por medidas de salvação feitos por entidades
dentro e fora da Bacia, foi mesmo como manobra pró-transposição o programa
oficial de revitalização apresentado pelo governo federal. Ao que consta, foi
num seminário promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Regional Nordeste 3 (Bahia/Sergipe), em Salvador, em 1999, que, pela primeira
vez, se levantou a bandeira “Transposição, Não; Revitalização, Sim!”. Aos
protestos e cobranças, o governo federal reagiu, a partir de 2003, com um
programa de revitalização que ganhou visibilidade política desde o avanço do
projeto de transposição e da reação popular contrária.
Infelizmente
os argumentos que o estado usa sobre para a revitalização do Rio não convence
aos estudiosos ambientais, mas, justifica aos leigos da importância aparente da
transposição do Rio. Ressoam aos que necessitam da água como uma ação
importante e necessária. E assim, os
argumentos contrários a transposição perde força e a concretização da obra é
fato, indo de encontro aos reias problemas que pode ser gerado a partir deste
cenário.
3.1. Concepção e estrutura do programa
de revitalização do governo
Conforme
publicações do programa, as ações de revitalização consistem em obras de
saneamento básico e ambiental, como as de coleta e tratamento de esgoto
sanitário, de macrodrenagem, de tratamento de resíduos sólidos, de contenção de
desmoronamento de barrancas e de controle
de processos erosivos, além daquelas destinadas à melhoria da navegabilidade e
da recuperação de matas ciliares Já nesta listagem de diversas ações percebe-se
a falta de precisão conceitual para elaborar um programa consistente e
abrangente.
Numa
visão mais abrangente, o programa de revitalização deveria também considerar
medidas para garantir um consumo racional da água, evitando a superexploração
da vazão do Rio e seus afluentes, sobretudo pela irrigação e mineração. Dentro
do programa foram promovidos muitos eventos e reuniões, mas as medidas
realizadas são pontuais. “A estrutura do programa dá a impressão de uma “colcha
de retalhos”, juntando vários projetos requentados, elaborados anos atrás, sob
um programa guarda-chuva” mas sem visão estratégica e sistêmica.
Essas
ações fragmentadas não traduzem em resultados satisfatórios, pois é através de
ações integradas que venham intervir nas raízes dos problemas, é que de fato
poderão surgir efeitos mais positivos.
Os projetos desarticulados e sem continuidade não atende a Bacia como o
todo, pois ações isoladas como são realizadas estão muito mais para atenuar e
não resolver os problemas. Neste sentido, tentar modificar as posturas de
produção e consumo, talvez seja a melhor saída para não destruir tantos os
recursos naturais.
3.2. Gestão do programa e falsa
participação:
Revitalização
como barganha da transposição Segundo informações do governo, o Programa de
Revitalização da Bacia Hidrográfica foi concebido de “forma coletiva e vem
sendo aprimorado de modo participativo”12. De fato, foi criado um sistema
complexo de instâncias colegiadas formais, em nível federal, estadual e
municipal, com o envolvimento da sociedade civil organizada. São eles o Comitê
Gestor do Programa de Revitalização, o Grupo de Trabalho da Revitalização, o
Comitê da Bacia
Hidrográfica
do São Francisco (CBHSF), os Núcleos de Articulação do Programa (NAPs) e as
Comissões Locais de Meio Ambiente e Ação Sócio- Ambiental (Colméias) (cf.
Aroucha, 2007: 1).
Contudo,
a experiência dos últimos anos mostrou que estas instâncias sempre foram
dominadas pelos interesses do governo, que tentou se esconder atrás de rganogramas ramificados mas deixou
transparecer suas intenções de cooptação.
Na
verdade a iniciativa de se promover a revitalização do Rio São Francisco foi em
resposta a pressão dos movimentos sociais. Sendo assim, a Revitalização do
“faz-de- conta” termo usado pelos autores foi justamente no sentido de desviar
as pressões contrárias a transposição. A situação dos órgãos estarem
subordinados ao governo, mantendo os interesses do estado não permite ao cidadão poder confiar e assim manter uma credibilidade diante das
ações promovidas por estes órgãos que ao contrário do que acontece, poderia ser
os principais a desempenhar um papel de defesa ambiental ou do próprio homem.
3. Conclusão
O
Rio São Francisco precisa de um programa abrangente de revitalização que parta
de uma visão ecossistêmica dos problemas da Bacia e ataque de forma igualmente
sistemática as principais causas de degradação do Rio. As ações pontuais e
paliativas promovidas até agora não bastam para atingir as raízes dos
problemas. Além das ações de saneamento básico propostas pelo programa do
governo, um projeto de revitalização deve ir além de encarar a poluição direta
por emissões urbanas e industriais. Um aspecto essencial é a conservação de lençóis freáticos, nascentes e
áreas de recarga para garantia de armazenamento e fornecimento de água na Bacia
em volumes suficientes à reprodução do conjunto da vida, diminuição de
enxurradas e maiores vazões de estiagem. O problema da recuperação
hidro-ambiental do São Francisco somente em parte é um problema de engenharia,
ele é também, em muitos aspectos, um problema agrícola e social. Todo esforço
de recuperação da Bacia será em vão se o modelo de produção agrícola não for
modificado.
Esse
talvez seja um esforço de todos, no sentido de buscar estratégias de
conscientização e mudanças de hábitos para atender integralmente os perigos que
ora o Rio São Francisco sofre. Uma dessas alternativas é buscar mediadas já
praticadas pelos ribeirinhos que apresentam uma boa convivência com o Rio sem
alterar se curso natural e nem destruir as bases para mantê-lo como Rio potente
com grande vazão de água.
A
revitalização da Bacia do Rio São Francisco somente será verdadeira se o povo
ribeirinho, especialmente a população pobre, vítima da injustiça ambiental resultante
do processo cumulativo de degradação e que se organiza e se mobiliza para
enfrentá-la e combatê-la, for sua efetiva protagonista.
Referências
Andrea
Zellhuber e Ruben Siqueira. Rio São
Francisco em descaminho: Degradação e revitalização: Salvador 2007
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