Prezados colegas,
Segue o link do site da Comissão Pastoral da Terra - Regional Bahia, com relatos sobre a o Rio Verde em Itaguaçu.
Por Liziane Vasconcelos.
Conflito por água em tempos de seca
Relato das visitas às comunidades ribeirinhas do
rio Verde escrito por Samuel
Britto e Hamilton Luz
A realidade da seca na região Nordeste tem sido
pautada em vários veículos de comunicação, e tem sensibilizado setores da
sociedade brasileira em relação aos desmandos dos governos frente a esta
realidade. No Médio São Francisco não é diferente, parcela significativa deste
território encontra-se sob o domínio do Semiárido Brasileiro – SAB, e foi no
município de Itaguaçu da Bahia, às margens do rio Verde encravado nas Caatingas
baianas, que foi feita uma visita para levantar alguns dos problemas de comunidades
ribeirinhas, que têm sofrido com o período de estiagem.
No fim do mês de outubro (30), agentes da Comissão
Pastoral da Terra, representantes do Movimento dos Trabalhadores Assentados,
Acampados e Quilombolas da Bahia – CETA, representantes da comunidade
Quilombola de Barreiro e representantes do Assentamento Maquiné visitaram um
trecho do rio Verde no município de Itaguaçu da Bahia. Tanto a comunidade
Quilombola de Barreiro, com 380 famílias, como os moradores do Assentamento
Maquiné, com 16 famílias (eram 20 famílias, mas quatro abandonaram o
assentamento por causa da seca), dependem deste rio para sobreviverem: uso da
água para beber, doméstico, agricultura, dessedentação animal, pesca, lazer.
Contudo percebe-se que este rio não é mais o mesmo
de antigamente, como relata alguns moradores. “Vim para a região por conta da
água do rio Verde. Hoje não posso mais contar com o rio para matar a minha sede
e a dos animais, que estão morrendo sem água”, conta Alberto. Outros
afirmam que “o rio deixou de ser perene após a construção da Barragem de
Mirorós”, construída na década de 80, com o objetivo de abastecer a cidade de
Irecê e o Perímetro Irrigado de Mirorós, administrado pela Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba-CODEVASF. Fato é que há
anos o rio não corre mais como antes e o seu leito, em grande parte, virou só
areia e pedras.
Ao longo do trecho visitado, a pouca água que se
viu brota de inúmeras nascentes difusas na margem da estrada, que formam um
riacho que segue perene por cerca de 30 Km. A água que tem sido utilizada pela
população há algum tempo vem da “Operação Pipa” do Exército Brasileiro, que tem
sido responsável por abastecer as cisternas. Na comunidade de Barreiro desde
que as cisternas foram construídas nunca foram abastecidas por água das chuvas.
Algumas áreas que foram preparadas para o plantio em outubro de 2011 estão até
hoje sem serem plantadas, devido a falta de chuvas.
Outra atividade, demandante da água da região é o
lazer, que vem se dando em alguns balneários, construídos ao longo das Áreas de
Preservação Permanente-APPs do rio Verde, e que são frequentados por milhares
de pessoas da microrregião de Irecê, ao longo do ano, onde a pouca água que
corre é represada para garantir o banho dos turistas que frequentam estes
locais.
Diante deste cenário o que se vê é um típico caso
de Conflito pelo Uso da Água, que na região se configura em um conflito de
múltiplos usos, pois envolve várias atividades humanas: o lazer, o uso humano,
a dessedentação animal, a agricultura, a pesca. Portanto, a situação do rio
Verde, neste trecho visitado, e em especial, a situação da população Ribeirinha
que utiliza das suas (poucas) águas é de intensa gravidade. Situação parecida
vive outros rios intermitentes da região Nordeste, que no Médio São Francisco,
destacam-se os rios Paramirim e Santo Onofre, que carecem de atenção dos
governos Estadual e Federal para garantir a sua revitalização, ou minimamente a
sua perenização.
As comunidades clamam por providências e vivem
angustiadas diante de tal penúria, e percebem que o melhor a fazer é se
organizarem. Providências precisam ser tomadas. O poder local, os governos
Estadual e Federal têm a obrigação de dar respostas a estas comunidades que
sofrem. O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Verde Jacaré também pode fazer
mais e deve ser um instrumento gestor das demandas da população ribeirinha que
depende essencialmente deste rio para sobreviver.
Estudos sérios precisam ser feitos para levantar as
reais causas de degradação destes rios, bem como indicar soluções para os
problemas da população local. O desafio é garantir a vida destas comunidades
frente ao eminente risco de acirramento dos conflitos pela água, que em tempos
de seca ganham novos contornos e tendem a se agudizarem.
Samuel Britto é
engenheiro agrônomo e articulador do Projeto São Francisco (CPP/CPT) na região
do Médio São Francisco.
Hamilton Luz é
educador popular e agente da Comissão Pastoral da Terra do Centro Oeste da
Bahia – Núcleo de Barra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário